Telemetria reduz conta de água e gera eficiência na UFMS


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CAMPO GRANDE NEWS

Telemetria é um sistema de monitoramento com diversas aplicações e na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) a tecnologia implantada vem sendo usada para medir em tempo real o esgoto gerado. Redução de 70% no valor da conta da água levou a instituição a investir em eficiência, fator que aos poucos vem despertando o saneamento consciente dentro do campus.

De acordo com Peter Batista Cheung, engenheiro civil e professor do Departamento de Hidráulica e Transporte da UFMS, o projeto detecta problemas que permeiam a rede de esgoto na instituição e com isso o diagnóstico é feito em casos de consumo elevado, vazamentos, entre outros. A melhoria na distribuição do esgoto no campus, além da promoção de educação ambiental e conscientização aos alunos, também são garantidas pela medição.

Programas de pesquisa e extensão como esse são denominados Puras (Programas de Uso Racional da Água em Edificações). Várias instituições brasileiras possuem programas Pura, como UFBA (Universidade Federal da Bahia), USP (Universidade de São Paulo), UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), UFV (Universidade Federal de Viçosa), UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), entre outras.

A telemetria é bastante utilizada em condomínios residenciais construídos há pouco tempo como o Jardim dos Jatobás, em frente ao Shopping Campo Grande, onde todos os apartamentos possuem hidrômetros individuais. A tecnologia recolhe os dados, armazena no computador e consequentemente promove a divisão da conta de água, conforme o que cada consumidor gastou.

Os condomínios mais antigos não têm esse sistema porque a medição individualizada não foi pensada. No caso do Jardim dos Jatobás, apesar dos hidrômetros individuais, as informações referentes ao esgoto não são monitoradas. “Dá para descobrir, por exemplo, que apartamento está com vazamento ou em qual a torneira foi deixada aberta”, aponta o professor.

Pela tecnologia de telemetria o sinal elétrico que chega é convertido em informação (pressão, vazão e temperatura) dependendo do tipo de sensor. No caso do sensor de pressão, por exemplo, é possível monitorar a existência de vazamento no sistema de abastecimento d’água.

Através da implantação da telemetria, houve redução no valor da conta de água e esgoto da UFMS porque a instituição passou a investir em eficiência. Convencionalmente, o cálculo da conta de esgoto se baseia no consumo de água e sob ele se aplica um coeficiente de retorno (70 a 80%). Entretanto, na universidade, não se aplica isso, pois o valor da conta de esgoto é baseado no volume real.

O professor Peter Cheung afirma que trabalhar com volumes reais é muito mais interessante pelo ponto de vista do uso racional. Foi a partir dessa constatação que a administração da UFMS passou então a investir na reforma completa dos sanitários da instituição, colocando aparelhos economizadores mais eficientes do mercado.

Outro projeto interessante na área é o minucioso CCO (Centro de Controle Operacionais) montado no Laboratório de Eficiência Energética e Hidráulica em Saneamento Centro Oeste na UFMS. Esse laboratório é composto por bancadas fixas e móveis, sendo que o laboratório móvel possui equipamentos de última geração para medição de parâmetros hidráulicos e elétricos e detecção de vazamentos. Esse equipamentos detectam falhas na tubulação, escutas, medição de audição, pressão da rede e diagnosticam problemas como vazamentos nas calçadas do campus.

A equipe de pesquisa recebeu investimentos da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) para o desenvolvimento de um sistema de telemetria inteligente. Peter ressalta que a telemetria por si só não é suficiente. É preciso colocar inteligência no sistema a fim de que as informações sejam utilizadas para a tomada de decisão.

O produto desenvolvido acabou recebendo moldes mais avançados e será utilizado na medição de água e esgoto da universidade. No interior dele há um armazenador de dados e um modem de celular, onde é possível monitorar parâmetros à distância via rede celular. No monitoramento de pressão, caso haja uma queda brusca é possível constatar imediatamente. Dependendo da característica do gráfico também dá para saber se o problema é referente à manutenção na rede ou vazamento.

Atualmente não há nenhum sistema de telemetria de esgoto em tempo real disponibilizado em outra instituição que não seja a UFMS. Por meio dele a Águas Guariroba garante um cuidado redobrado com a manutenção, pois, caso uma rede seja rompida imediatamente será constatada pela tecnologia e o conserto deverá ser feito logo.

No dia em que a reportagem do Campo Grande News acompanhou o funcionamento do sistema de telemetria do HU (Hospital Universitário), o painel apontava valores acima da média diária. Os números indicavam o volume de esgoto produzido naquele momento, explicando que na ocasião a lavanderia do hospital estava em pleno funcionamento.

Outro problema que também pode ser detectado é a intrusão de águas pluviais na rede coletora de esgoto. Isso é feito correlacionando dias de chuva com vazão medida. Por outro lado, se a vazão for muito elevada e não estiver chovendo pode estar ocorrendo um grande vazamento. Já em casos de baixa vazão o problema está no mau funcionamento do equipamento ou então num vazamento superficial de esgoto.

Uso racional da água – Os Puras devem ser programas mobilizadores, transversais e institucionalizados. Em geral, o consumo de água é elevado em decorrência do número de pessoas, porém, seu consumo per capita é da ordem de 50 litros diários de água por habitante, três vezes menor que o consumo residencial (150 a 250 litros diários de água por habitante). Na UFMS, o Pura é institucionalizado através da Ciema (Comissão Interna de Eficiência e Modernização Administrativa da Pró-reitoria de Administração).

A lei federal 11.445, que estabelece diretrizes para o saneamento básico, determina que havendo rede coletora de esgoto em frente à edificação, obrigatoriamente deve ser feita a ligação. Por isso, independente do consumidor ligar ou não, a partir do momento em que possui a rede, a conta será entregue.

No entanto, a lei estabelece que, caso o consumidor tenha um poço, água e hidrômetro não serão disponibilizados à residência, a fim de que seja evitada conexão cruzada e possível contaminação da rede.

Então, desde que a rede de esgoto foi instalada na UFMS pela Águas Guariroba, em 2009, a Ciema exigiu a implantação do sistema de telemetria no campus, até mesmo para amenizar a conta de água, que chegou a representar R$ 300 mil por mês. Esse valor foi apenas uma simulação realizada para a instituição, quando a conta de esgoto era calculada com base no volume dos poços.

Para evitar desperdício de água como em lavagens de salas de aula, quadras, corredores e irrigações de jardins, a universidade resolveu criar a Comissão de Modernização e Eficiência, também responsável pela água e esgoto da instituição. “Decidimos institucionalizar o programa, pois acabando essa gestão a comissão permanece”, assegura o professor Peter.

O Pura não é um programa inédito em âmbito universitário. Em São Paulo, por exemplo, a USP era a maior devedora de água e esgoto da companhia de abastecimento do estado. Por conta disso, várias propostas começaram a surgir dentro da universidade visando formar profissionais para dar continuidade às ideias, além de mostrar que algo diferente estava sendo feito.

Pelo programa empreendido na UFMS, começou a ocorrer um diagnóstico do sistema de saneamento, afinal, todos os poços foram hidrometrados.

Agora, uma equipe liderada pelo professor Peter Cheung espera ir mais longe: quer, com auxílio dos Fundos de Inovação e Desenvolvimento Tecnológico da Eletrobras, garantir um sistema de monitoramento em tempo real tanto do esgoto quanto da água. “Se há economia de água, o bombeamento pode diminuir e consequentemente há economia de energia também”, explica o engenheiro civil.

Alguns dos principais objetivos do programa são: reduzir o consumo, informar a comunidade universitária sobre o consumo de água, elaborar e aplicar indicadores de desempenho e agregar um grande número de voluntários (estudantes, docentes, técnicos) em favor do uso racional de água. O projeto está orçado em R$ 600 mil.

Peter destaca ainda que uma das metas do programa é a criação de uma agência escola reguladora. Ela funcionará como um núcleo para a formação de pessoal e ensinará as pessoas a se tornarem vigilantes da infraestrutura do município.

“É importante lembrar que a infraestrutura de saneamento é de propriedade do município e que uma companhia de água, seja ela pública ou privada, é um mero prestador de serviço”, destaca Cheung, ressaltando que a agência escola auxiliará a UFMS no cumprimento dos contratos de concessão, transparência para a população sobre a eficiência dos serviços, além de fiscalizar a correta gestão patrimonial da infraestrutura.

Seja na telemetria de esgoto ou numa futura medição em tempo real da água no campus, a UFMS carrega em sua vasta bagagem de ações um dos projetos mais inteligentes em termos de saneamento no Brasil.


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