Facção criminosa do Rio tem 'caixinha' para financiar invasões e repor armas apreendidas pela polícia


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Policiais ouvidos pelo R7 estimam que a maior organização criminosa do Rio de Janeiro arrecada mensalmente até R$ 2 milhões em uma "caixinha" para a qual todas as favelas dominadas pelo grupo dão uma contribuição de cerca de 5% do faturamento com venda de drogas. Até mesmo as comunidades ocupadas por UPPs (Unidades de Polícia Pacificadoras), onde o tráfico atua sem armas pesadas, pagam o "imposto".

Esse dinheiro, segundo fontes da polícia, é usado principalmente para financiar invasões a favelas inimigas, resgate de comparsas, pagamento de armas e drogas apreendidas, propinas a policiais quando algum chefe do grupo é preso e ações criminosas, como grandes assaltos. A quantia também ajuda a pagar advogados que defendem integrantes da facção e dá assistência a criminosos que estão passando por dificuldades.

O traficante que não contribuir com a "caixinha" corre o risco de perder a favela que comanda ou então a própria vida. E quem pega emprestado dinheiro e não repõe pode passar pela mesma situação, com chance de ter bens e armas penhorados. Exemplo disso é o do traficante conhecido como Tuchinha, que atuava no morro da Mangueira (zona norte), e perdeu, em 2007, a condição de chefe da favela ao se recusar a pagar a "caixinha".

Todo o dinheiro arrecadado pela "caixinha" fica guardado no complexo de favelas do Alemão (zona norte), principal base da quadrilha e onde estão escondidos todos os principais chefes da facção. O traficante conhecido como Polegar é responsável por administrar o negócio.

O dinheiro da "caixinha" foi usado, por exemplo, na invasão ao morro dos Macacos, em Vila Isabel (zona norte), em outubro do ano passado, quando um helicóptero da Polícia Militar foi abatido a tiros e três policiais morreram. Há dois anos, a "caixinha" também financiaria um ataque ao complexo prisional de Bangu, na zona oeste, em que 300 traficantes pretendiam resgatar comparsas. O plano, porém, foi abortado.

Favelas

Entre as favelas que pagam a "caixinha", além dos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte, estão Mangueira, Jacarezinho e Manguinhos, na mesma região, Antares, na zona oeste, e até comunidades com UPPs como Borel, na zona norte, Ladeira dos Tabajaras e Pavão-Pavãozinho, na zona sul, e Cidade de Deus, em Jacarepaguá, zona oeste.

Segundo a polícia, a organização pretende ampliar os seus domínios. Há favelas dominadas por grupos rivais que estão "prometidas" para antigos chefes que não controlam nenhuma localidade.

O morro da Serrinha, em Madureira (zona norte), é cobiçado pelo criminoso Claudinho CL; o do Urubu, em Pilares (zona norte), na mesma região, por Fabiano Atanásio, o FB; Vigário Geral, pelo traficante Bertinho, e o morro do Vidigal (zona sul), pelo criminoso Patrick. A favela do Sapo, em Senador Camará (zona oeste), iria para o traficante Fofito, e a Rocinha, em São Conrado (zona sul), para Fernandinho Beira-Mar, traficante preso atualmente na Penitenciária Federal de Campo Grande (MS).

A "caixinha" da facção existe desde a criação do grupo, na década de 1970, no presídio da Ilha Grande, em Angra dos Reis, litoral sul fluminense. Durante os primeiros anos, integrantes da facção em liberdade pagavam uma espécie de "dízimo" que era arrecadado nas ações criminosas que cada um praticava. Esse dinheiro servia para financiar tentativas de fuga.

Outro lado

Procurada pelo R7 para falar sobre o caso, a Secretaria de Segurança Pública informou que não há informação na Subsecretaria de Inteligência que confirme suposição de que os policiais receberiam propinas de uma "caixinha" de traficantes. Caso haja algum indício que leve a elas, a pasta diz que afastará qualquer servidor em desvio de conduta que responderá a processo administrativo e judicial. No entanto, a secretaria ressalva que está falando apenas de hipóteses.
 


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