Gol mais rápido do Brasileirão faz 30 anos e autor admite: "Seco até hoje"

Ídolo do Náutico, ex-atacante Nivaldo marcou aos oito segundos em jogo pela edição de 1989, contra o Atlético-MG; até hoje, ele torce para que ninguém quebre a escrita


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GLOBOESPORTE.COM / RôMULO ALCOFORADO

O ex-atacante Nivaldo precisou de oito segundos para entrar na história do futebol nacional. Há exatos 30 anos, ele levou esse tempo para fazer o gol que , até hoje, é o mais rápido da história do Campeonato Brasileiro. A convite da Globo, o ídolo do Náutico voltou ao estádio dos Aflitos, onde lembrou do momento, da partida contra o Atlético-MG pelo Brasileirão de 1989, reencontrou o "garçom" Augusto e admitiu que seca todas as partidas para não ter a escrita quebrada.

A anatomia do gol

Muita gente não estava no estádio quando o gol foi marcado. Ainda havia muitos torcedores entrando nos Aflitos, outros ainda nem tinham chegado. Obviamente, o lance foi muito rápido. O entrosamento entre Augusto e Nivaldo, que jogaram juntos no Paulistano e no Náutico desde o ano anterior, foi determinante.

- A gente costumava fazer essa jogada, tanto no júnior do Paulistano quanto no próprio Náutico. Já até tínhamos feito gol dessa forma, mas não, claro, com oito segundos - diz o ex-meia Augusto.

A participação de Augusto é fundamental. Via de regra, o jogador que recebia o passe no centro, recuava e devolvia a bola para companheiros no campo de defesa. O meia eventualmente surpreendia.

"Ele tinha essa característica. Ele fingia que ia devolver a bola e girava", lembra Nivaldo.

Augusto fez isso. Recebeu a bola, olhou para o seu campo, mas girou e partiu para o ataque. Ao mesmo tempo, Nivaldo fazia uma diagonal da direita para o centro.

- Nivaldo era muito rápido. E eu tinha facilidade para dar o passe de trivela, ou três dedos, como se diz. Então ele fez o "facão" por dentro e eu dei a bola de trivela.

O resto do lance é absoluta competência de Nivaldo. Ele recebe o passe e finaliza com muita força, sem chance para o goleiro Rômulo, do Atlético-MG.

- A gente pegou de surpresa. A jogada foi muito rápida. Eles achavam que Augusto ia devolver, mas ele fez a jogada certinha, eu entrei em diagonal e bati ali com consciência. Eles ficaram sem acreditar - diz Nivaldo.

E depois do gol?

Nivaldo só ficou sabendo após o jogo, pela imprensa, que havia feito o gol mais rápido do Brasileiro. Lembrado até hoje por aquele lance, o jogador teve outros momentos bons na carreira. Além de ter sido vice-campeão brasileiro da Série B em 88 e ter feito parte da boa campanha do Náutico na Série A de 89, ele foi campeão estadual em 89 e artilheiro do Pernambucano de 92.

Por conta do bom desempenho no Timbu, despertou o interesse do Cruzeiro. Na Raposa, apesar de ter feito parte do grupo campeão da Copa do Brasil em 93, não brilhou. Depois, foi emprestado ao Sport e terminou a carreira em clubes de menor expressão, sem o destaque que teve na época do Náutico.

Hoje, leva vida simples na cidade de Catende, a 140 km do Recife, onde nasceu e se criou.

É lembrado principalmente por ser o autor do gol mais rápido do Brasileirão.

"Tem esse momento, que foi marcante na minha carreira, mas infelizmente, quando a gente encerra a carreira, o pessoal esquece um pouco."

Ídolo do Timbu

Não é assim, no entanto, no que diz respeito à torcida do Náutico. Até hoje, Nivaldo frequenta os Aflitos. Esteve, por exemplo, no jogo do acesso à Série B contra o Paysandu. Foi um entre as centenas de torcedores que invadiram o gramado para comemorar a conquista.

Até hoje, ele é reverenciado pelos alvirrubros.

"A torcida do Náutico é muito grata. Aonde vou, todo mundo se lembra, normalmente falando do gol, né? 'Esse aí é do Náutico', 'o cara do gol mais rápido', 'esse era nosso herói', esse tipo de coisa."

Não é só Nivaldo. Aquele time, que conquistou título estadual, acesso à Série A e fez boa campanha na primeira divisão, tem o carinho do torcedor. O lateral-direito Levi Gomes até hoje trabalha no clube. O artilheiro Bizu, segundo maior goleador daquela edição, também é reverenciado pelos alvirrubros - assim como o meia Augusto.

- O caldeirão dos Aflitos era brincadeira. A torcida comparecia e gostava muito daquela equipe. Falam até hoje que foi uma das eras de ouro do Náutico. Graças a Deus fiz parte dessa equipe - fala Augusto.

Secador ativado

Sempre que assiste a jogos do Brasileirão, Nivaldo começa os jogos um pouco tenso. Ele só relaxa depois que o relógio passa dos oito segundos. O ex-atacante admite que "seca" os outros jogadores.

"Eu seco mesmo quando começa o jogo para não fazerem o gol antes dos oito segundos."

Eventualmente, Nivaldo leva um susto. Chega a notícia de que algum jogador marcou um gol muito rápido na Série A.

- Eu vou olhar o gol meio preocupado, mas ele acontece depois dos oito segundos. Só aí é que eu consigo relaxar um pouco.

Herói "esquecido"

O jogo do recorde, contra o Atlético-MG, tem algumas particularidades. Uma delas é que a partida foi emocionante. O Náutico, claro, saiu na frente. Mas tomou a virada do Galo.

Empurrado pelo torcedor, porém, o time encontrou forças para revirar o placar. O herói da noite não foi Nivaldo. Depois do gol mais rápido, ele teve outras oportunidades, mas não marcou. Quem decidiu foi o matador Bizu, vice-artilheiro daquela edição. Fez 10 gols, atrás apenas de Túlio, que à época, ainda não era "Maravilha" e atuava no Goiás.

Aniversariante do dia anterior, Bizu marcou os outros dois gols do Náutico, os da virada, ambos já no final do jogo. Foi celebrado pela torcida, ainda em campo, como o salvador da vitória. Hoje, porém, aquela glória não é mais lembrada.

Ainda adorado pela torcida alvirrubra, o feito de Bizu naquele jogo específico ficou no passado. Ele, porém, não reclama ou nada do tipo. Pelo contrário: acha justo que o exaltado naquela partida seja Nivaldo.

"Naquele jogo eu fiz dois gols, talvez um dos mais importantes da minha carreira. Mas, no conjunto da obra, reina o gol mais rápido. É uma lembrança merecida. Isso é legal. A gente tem muito respeito um com o outro, disse Bizu"

O artilheiro afirma que entende bem a situação porque já esteve "do outro lado".

- É um reconhecimento bacana. Ele merecia isso. Eu encaro bem, porque quantas vezes eu apareci no jogo porque coloquei a bola pra dentro? Porque fiz o gol? Mas os colegas é que me passaram a bola. Nivaldo, Augusto. Ele merece demais esse reconhecimento por tudo que representa para o Náutico.


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